terça-feira, 7 de maio de 2013

COTA ZERO DE TRANSPORTE DE PESCADOS: singelas reflexões

Como pescador apaixonado pelas belezas naturais do Araguaia e região, não tenho como negar a frustração que já senti ao me deslocar com parentes e amigos àquele manancial sem que chegássemos sequer próximos dos resultados apresentados em pescarias do passado.

Digo isso fazendo referência ao um período não muito distante, considerando que tenho 38 anos de idade. Por isso lembro bem como eram as pescarias até o início de minha adolescência, quando minha família tinha o costume de se reunir em acampamento às margens do Araguaia em julho por, pelo menos, duas semanas. Nunca cometemos excessos, ao contrário, sempre zelamos pela "nossa praia cativa", assim como pela fauna e flora locais.
Mesmo diante da fartura do pescado, nunca ficamos deslumbrados em termos pejorativos, no sentido de depredarmos o meio ambiente. Tínhamos peixe para o almoço e o jantar, quando queríamos, e ainda alguns exemplares para o retorno, mas poucos, apenas o suficiente para outra reunião, um almoço ou jantar.
Nos últimos anos, porém, temos visto aumentar substancialmente as vezes em que nós e nossos conhecidos têm retornado de suas pescarias com histórias de dias inteiros de pesca sem nenhum exemplar sequer fisgado. É isso mesmo, 'fisgado', não necessariamente 'capturado', pois já há um bom tempo que adotei a prática da pesca esportiva.
Mas essa atitude voluntária de uns poucos não resolve, pois em contrapartida continuam vários abusos de outros tantos pescadores amadores e, pior, de muitos que se dizem 'profissionais', mas que denomino como verdadeiros 'assassinos da natureza', pois não têm nenhum pudor em 'arrastar' dezenas e dezenas de metros de rede de pesca pelas águas do Araguaia, muitas vezes até nos expulsando de pontos de pesca sob ameaça, às vezes, armada.
A principal vítima disso tudo sempre foi o ser humano. Digo isso porque o ambiente em que viveremos amanhã é o resultado de nossas ações hoje. Assim, esse quadro degenerativo artificial, provocado pelas inconsequentes ações de depredadores, pode trazer uma satisfação momentânea para os que não são flagrados no crime ambiental, mas o resultado finalístico é um só: a saturação dos recursos naturais, que não alcançam renovação na mesma velocidade com que são aviltados.
Dito isto, pode parecer injusto 'penalizar' a todos, incluídos os inocentes, com a cota zero, mas vejo a medida como mais do que necessária, pois desejo muito que meus filhos possam ver o Araguaia com os mesmos olhos que eu vi desde a minha tenra idade. Quero que tenham condição de se maravilharem com a riqueza da fauna e da flora que um dia eu vi, muitas vezes dispendendo horas apenas contemplando o barulho dos pássaros, dos animais, da água correndo...
Um pensamento mais crítico conduz à inevitável constatação da necessidade dessa cota zero. Nada obstante, chamou minha atenção o conteúdo dos novos critérios de captura, com fixação de tamanhos mínimos e máximos de cada espécie. Percebi que na exposição de motivos da Instrução Normativa há justificativas apontando o teor de estudos realizados em, por exemplo, tese de doutorado. Mas a verdade é que já vai longe o tempo em que ouvimos continuamente de ribeirinhos mais 'observadores' a preocupação com a existência apenas de um tamanho mínimo de captura, sem tamanho máximo. Ora, a princípio a ideia parecia boa, mas ao longo do tempo isso acarretou verdadeira diminuição do tamanho de várias espécies, pois os grandes exemplares, que seriam verdadeiras 'matrizes', eram capturados, fazendo com que a reprodução da espécie ficasse a cargo dos exemplares de genética não tão apurada, causando desequilíbrio na seleção natural.
O novo padrão, com obviedade, assegura que essas matrizes serão preservadas, garantindo que a cada piracema possam procriar e nos agraciar com a melhoria da espécie.
Mais que isso, será muito mais comum termos o prazer de fisgarmos grandes exemplares, certos de que serão eles devolvidos ao rio, não apenas para a mencionada procriação, mas também para que possam ser recapturados posteriormente. Será, pois, mais comum termos esses 'troféus' em fotografias. E isso basta. Quem quiser comer que o faça capturando exemplares nos tamanhos intermediários.
Termino conclamando todos os pescadores e apaixonados pela pesca como eu que tenham a responsabilidade (a decência) de respeitarem os parâmetros dessa nova norma, a fim de que tenhamos um futuro melhor para nós e nossos filhos.
Para os interessados, deixo abaixo acesso à Instrução Normativa que instituiu a cota zero e esse novo parâmetro de tamanho (mínimo e máximo) de captura.

Prof. Me. Giulliano Rodrigo Gonçalves e Silva

CONFIRA A INSTRUÇÃO NORMATIVA CLICANDO AQUI!

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